Doenças neurológicas: em algum momento no decurso dessas enfermidades será preciso considerar os cuidados paliativos A neurologia sempre foi uma ilha de resistência para os cuidados paliativos na medicina. Durante décadas a formação médica visou oferecer todos os tratamentos disponíveis para os pacientes com doenças neurodegenerativas. Desistir de investigar e tratar exaustivamente quadros irreversíveis era sinônimo …
Doenças neurológicas: em algum momento no decurso dessas enfermidades será preciso considerar os cuidados paliativos
A neurologia sempre foi uma ilha de resistência para os cuidados paliativos na medicina. Durante décadas a formação médica visou oferecer todos os tratamentos disponíveis para os pacientes com doenças neurodegenerativas. Desistir de investigar e tratar exaustivamente quadros irreversíveis era sinônimo de abandonar o paciente e certamente você teria pesadelos com Hipócrates te fustigando. Isso ocorria sem considerar o grau de sofrimento e, por vezes, à revelia da vontade do paciente, que muitas vezes não conseguia verbalizar seu desejo. Quando o paciente expressava recusa em se submeter aos procedimentos, era considerado como negação ou quadro depressivo.
Com a expansão dos cuidados paliativos no Brasil, muitas doenças que impingiam profundo sofrimento, seja pela obstinação terapêutica ou pela falta de conhecimento dos neurologistas, começaram a ter um caminho menos árido. Os impactos serão percebidos ao longo dos próximos anos. Os neurologistas que adotarem a prática dos cuidados paliativos na sua rotina saberão que o melhor tratamento é aquele que traz conforto e dignidade ao adoentado e seus entes queridos, e não apenas o que rege a última diretriz das Academias. As equipes multiprofissionais são o futuro da assistência humanizada. Num futuro próximo, um terço da população brasileira terá mais de 60 anos. Quanto maior a longevidade, maior a probabilidade de ser acometido por doenças que afetem a autonomia e a cognição. Poder contar com assistência de profissionais familiarizados com esses processos é garantia de uma passagem menos sofrida.
Segundo dados de 2007 da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 10 pacientes no mundo morrerá por doenças neurológicas
As condições neurológicas que mais se beneficiariam dos cuidados paliativos são: demências, Doença de Parkinson, Esclerose Lateral Amiotrófica, sequelas de AVC ou de traumatismo de crânio ou coluna. Em algum momento no decurso dessas enfermidades será necessário considerarmos os cuidados paliativos.
Nas doenças de rápida evolução, como a Esclerose Lateral Amiotrófica, os cuidados paliativos devem ser abordados já nas primeiras consultas após o diagnóstico
No caso das doenças com evolução mais lenta como Doença de Parkinson e Doença de Alzheimer, a família vai percebendo que em algum momento os cuidados paliativos são a melhor opção.
Porém existem situações como o Acidente Vascular Encefálica ou o traumatismo de crânio, que dependendo da extensão de lesão pode causar uma sequela muito incapacitante, trazendo grande sofrimento ao paciente. Nestas situações a decisão sobre os cuidados paliativos precisa ser abordada com familiares, pois nem sempre o paciente apresenta condições de verbalizar sua vontade.
Dr. Bruno Bertoli Esmanhotto é neurologista no Valencis Curitiba Hospice.