Como agir nos momentos finais da vida de um familiar ou amigo? Presenciar o momento final da vida de um ente querido pode ser uma experiência muito desgastante do ponto de vista emocional. Muitas dúvidas surgem nesse momento e você pode estar se perguntando como deve agir para que possa estar presente e auxiliar nesse …
Como agir nos momentos finais da vida de um familiar ou amigo?
Presenciar o momento final da vida de um ente querido pode ser uma experiência muito desgastante do ponto de vista emocional. Muitas dúvidas surgem nesse momento e você pode estar se perguntando como deve agir para que possa estar presente e auxiliar nesse processo.
A primeira coisa é reconhecer que não há uma receita pronta que sirva para todos os casos, é necessário que você avalie se se sente bem em acompanhar seu ente querido e se ele ou ela gostaria de tê-lo por perto. Respeite seus limites, isso vai ser justo com você, que não se colocará em uma situação de sofrimento, e com a pessoa que está doente, pois terá ao seu lado alguém que pode estar lá por inteiro. Caso decida fazer esse acompanhamento, considere alguns pontos que podem nortear essa experiência.
Desde o início do processo, converse com a pessoa como se ela estivesse ouvindo e compreendendo, mesmo que ela pareça inconsciente. Os estudos sugerem que a audição é o último sentido que perdemos e se agirmos como se a pessoa estivesse ouvindo e compreendendo, talvez ela ouça e possa sentir que não está sozinha.
Deixe o ambiente com uma iluminação leve, o espaço físico ao redor influencia nas emoções sentidas. Caso a pessoa goste de música, você pode deixar as músicas preferidas dela tocando, pode ler um poema, texto, trecho de livros religiosos ou espiritualistas que fazem sentido para a pessoa.
O toque suave é bem-vindo, pegar na mão, fazer uma leva massagem. Mas evite toques mais fortes que possam ser dolorosos ou gerar desconforto. Se a pessoa é religiosa, pode ser realizada uma oração feita pelo ministro de fé da religião dela.
Lembre-se que o momento da morte é imprevisível, ou seja, pode ser que ela aconteça em um momento que você não esteja presente. Então, aproveite cada momento como se fosse único, pois, no fundo, ele sempre é.
Há alguns sinais físicos que podem demonstrar que a morte está próxima e conhecê-los pode te dar mais segurança para enfrentar esse momento. São eles:
- Alterações na respiração: ruidosa, devido ao acúmulo de líquidos na garganta; respiração com a boca aberta, roncos, pausa respiratória prolongada seguida por inspiração profunda.
- Boca e lábios secos devido à respiração bucal: você pode umedecer a boca e passar protetor labial.
- Pele fria e presença de manchas escuras (arroxeadas): isso acontece devido à redução da velocidade do fluxo sanguíneo e da coagulação do sangue nos pequenos vasos.
- Urina com coloração mais escura e odor mais forte: isso acontece pela redução da ingesta de líquidos e pelo fato do corpo estar parando de funcionar.
- Incontinência urinária e fecal.
- Agitação e inquietação.
- Sonolência: dorme a maior parte do tempo, não responde a estímulos.
- Odor forte como cheiro de acetona.
Quando a morte acontece, a pessoa fica sem pulso, sua cor e expressão facial mudam. Você pode não reconhecer a pessoa e ter a sensação de que é “uma casa vazia”. Não há certo ou errado sobre como você irá se sentir, apenas respeite o seu sentimento. Há um ineditismo nesse momento, por mais que você esperasse que fosse ocorrer e se preparou com todas as ferramentas que lhe foi possível, ainda assim, as coisas podem não sair como esperava.
Nunca estaremos totalmente prontos para perder a quem amamos, pois a morte daquele familiar específico só será experienciada uma vez, e isso será vivido na prática.
A experiência clínica mostra ainda a presença de alguns fenômenos relacionados ao processo de morrer, como, por exemplo, ver familiares, amigos ou animais de estimação que já morreram. No momento da morte: animais de estimação se comportarem de maneira diferente; sensação de mudança de temperatura na sala; aparecerem borboletas ou pássaros na janela; pessoas que não estavam no local sentirem a presença daquele que morreu; a pessoa parece escolher o momento e quem estará ao seu lado no momento da morte (ou se estará sozinha); mesmo quem estava inconsciente pode apresentar momento de lucidez final e se despedir de seus familiares.
Tudo isso importa e importa muito, pois fará parte desse momento que poderá ser lembrado para o resto da vida. O cuidado aqui é para que essa vivência da perda não se torne uma cobrança, um peso. As coisas nesse momento não “têm que acontecer”, elas acontecem ou não e nós temos pouco a controlar nesse momento. Assim, permita-se viver a experiência ao invés de tentar orquestrá-la.
Fonte: Gisele dos Santos, geriatra, e Ronny Kurashiki, psicólogo. Os profissionais fazem parte da equipe do Valencis Curitiba Hospice.