Além das doenças orgânicas, enfrenta-se no país dificuldades no suporte familiar e de ordem financeira O envelhecimento de uma população está intrinsecamente ligado as condições em que vive. É preciso entender em qual região do país o indivíduo nasceu? Quais foram suas oportunidades de desenvolvimento pessoal (físico, psicológico, social e espiritual)? Quais foram as suas …
Além das doenças orgânicas, enfrenta-se no país dificuldades no suporte familiar e de ordem financeira
O envelhecimento de uma população está intrinsecamente ligado as condições em que vive. É preciso entender em qual região do país o indivíduo nasceu? Quais foram suas oportunidades de desenvolvimento pessoal (físico, psicológico, social e espiritual)? Quais foram as suas possibilidades de acesso ao sistema de saúde e tratamentos indicados? Quais foram suas condições para ter alimentação saudável? Ou seja, diversos aspectos afetam o envelhecimento e a percepção que o indivíduo tem sobre ele.
“Muitos envelhecem com diversas doenças crônicas, sem controle adequado, o que acelera a perda de funcionalidade e, consequentemente, aumenta a dependência. Por exemplo, a hipertensão arterial quando tratada adequadamente com medidas farmacológicas (medicamentos) e não farmacológicas (dieta, exercícios, controle de estresse) trará poucas consequências ao organismo, por outro lado, quando tratada inadequadamente aumenta o risco de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca (coração fraco), acidente vascular encefálico e de insuficiência renal acelerando o declínio do organismo”, explica Gisele dos Santos, médica especialista em geriatria com área de atuação em Cuidados Paliativos do Valencis Curitiba Hospice.
Além das doenças orgânicas, enfrenta-se aqui no Brasil as dificuldades relativas à acessibilidade, ou seja, uma pessoa cadeirante ou em uso de andador/bengala tem dificuldade para sair de casa e exercer suas atividades de forma independente. “Dificuldades relativas a questões financeiras, muitos não têm dinheiro suficiente para suprir as necessidades relativas à fase de vida vivenciada. Dificuldades relativas ao suporte familiar, as famílias estão cada vez menores, as mulheres estão no mercado de trabalho e os familiares necessitam trabalhar para sustentar as despesas da casa.”
“Em um panorama geral a população brasileira vivencia a transição epidemiológica caracterizada por tríplice carga de doença, ou seja, desenvolvemos as doenças crônicas e persistimos com doenças infectocontagiosas e com sequelas da violência, as quais vêm acompanhadas por perda de funcionalidade e aumento da dependência”, complementa a doutora Gisele.
Reflexo no bem-estar
O envelhecimento quando bem-sucedido acontece de forma tranquila, com perdas lentas e gradativas do funcionamento dos diversos órgãos. “Vivenciamos a perda de massa muscular, a lentificação dos movimentos, a redução da visão, da audição, do paladar, do olfato, da sede e do apetite. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento psicológico e a espiritualidade permitem assimilar esse processo e ser resiliente com a perda de funcionalidade e com o aumento da dependência de nossos familiares e amigos. É como se fossemos uma vela que a chama vai apagando gradativamente até apagar completamente”, exemplifica.
Por outro lado, ainda de acordo com a médica Gisele, quando o envelhecimento vem acompanhado por doenças graves que geraram perda de funcionalidade precoce, quando há dificuldades nas esferas sociais, psicológicas ou espirituais o sofrimento torna-se evidente e prolongado. “Vejo diariamente pacientes em sofrimento por não conseguirem aceitar serem cuidados, por considerarem que são um peso para seus familiares e amigos”, finaliza.
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