Estratégias de comunicação com pacientes idosos O verbo comunicar traz em seu significado “transmitir informação, dar conhecimento de, fazer saber, participar”. Saber se comunicar é fundamental e faz toda diferença. Mas não basta apenas comunicação, é preciso que se tenha compreensão do que foi transmitido e esse é o grande desafio de comunicar. A especialista …
Estratégias de comunicação com pacientes idosos
O verbo comunicar traz em seu significado “transmitir informação, dar conhecimento de, fazer saber, participar”. Saber se comunicar é fundamental e faz toda diferença. Mas não basta apenas comunicação, é preciso que se tenha compreensão do que foi transmitido e esse é o grande desafio de comunicar.
A especialista em cuidados paliativos e geriatra Gisele dos Santos, do Valencis Curitiba Hospice, destaca alguns desafios encontrados na comunicação entre médico e paciente.
“A maneira como o médico entende o adoecimento é importante: ele está tratando a doença ou a pessoa?” Visto pelo lado do paciente, a redução da capacidade de compreender e produzir linguagem, bem como o déficit visual e o déficit auditivo, podem comprometer a comunicação, por isso é necessário fazer alguns ajustes. No caso de perdas visuais, por exemplo, a iluminação adequada da sala, o uso de imagens contrastantes e o uso de tecnologia como leitor de texto podem auxiliar na consulta. Quando o paciente apresenta perdas auditivas, cuidar dos ruídos no ambiente, verificar se ele está usando prótese auditiva e falar devagar, articulando bem as palavras, também pode ser de grande valia no estabelecimento de uma boa comunicação. No caso de pacientes com declínio cognitivo, ela recomenda: “Fale com o paciente como se ele estivesse entendendo. Isso faz bem até para a família. Eu não tenho como provar seu grau de compreensão, então na dúvida aja como se ele estivesse entendendo e evite demonstrar impaciência ou irritabilidade.” No caso da linguagem, algumas medidas também podem facilitar: fazer perguntas que exijam apenas “sim” ou “não”; repetir o que foi falado; elaborar sentenças simples; usar outros termos para transmitir a mesma ideia, se necessário; e focar sempre no que o idoso deve fazer. “O ideal é passar mensagens como ‘O senhor deve caminhar’ ao invés de ‘O senhor não deve ficar sempre parado’. Se passarmos mensagens do que ele não deve fazer, o cérebro tende a descartar o ‘não’’’, complementou.
Quanto à comunicação com familiares e cuidadores, é importante identificar o papel que a pessoa tem na vida do idoso e sempre perguntar ao paciente se essa pessoa pode participar da consulta. “Uma das recomendações aos familiares é, sempre que possível, sentar-se perto do idoso e do cuidador e manter contato ocular com ambos para construir uma relação de confiança entre os envolvidos. No momento da conversa, o ideal é escutar tudo o que o familiar deseja falar. Mas sempre inclua o idoso na conversa, mesmo que ele tenha declínio cognitivo. E cuide para não assumir a posição de nenhum, esteja sempre atento aos dois”.
Dra. Gisele dos Santos faz um alerta quanto à importância de usar termos acessíveis e evitar o jargão médico quando conversar com o idoso e a família. “É preciso explorar a maneira como o paciente entende sua doença, o tratamento e as consequências desse processo, principalmente em casos graves. Ela destaca:
Sentimento relacionado à doença que enfrenta: o objetivo é tirar o foco da doença e o que ela causa, para discutir os sentimentos do paciente em relação a isso;
Ideia e explicação dos sintomas e da doença: entender o que o paciente pensa que pode estar acontecendo, como o que causou a doença e o que a dor significa;
Funcionalidade: como o impacto da doença na vida diária. É preciso ajudar o idoso a compreender de que forma a condição afetou o cotidiano, as relações e os objetivos de vida;
Expectativa relativa à assistência da equipe e da doença: discutir o que o paciente espera do tratamento e as expectativas sobre o que pode acontecer em decorrência da doença.
Para a geriatra, a chave para a boa comunicação é a boa escuta. “A habilidade de escuta é uma peça fundamental nessa relação. É preciso saber ouvir, escutar o paciente. Se não há escuta, não há comunicação”.