Você sabe como é a terapia nutricional para pacientes paliativos? O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa traz para o verbo alimentar as seguintes definições: dar alimento, servir de alimento, ser nutritivo, dentre outras. Para nós, alimentar pode ser muito mais, porque alimentar envolve carinho, afeto e vida, para além das necessidades nutricionais necessárias para o …
Você sabe como é a terapia nutricional para pacientes paliativos?
O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa traz para o verbo alimentar as seguintes definições: dar alimento, servir de alimento, ser nutritivo, dentre outras. Para nós, alimentar pode ser muito mais, porque alimentar envolve carinho, afeto e vida, para além das necessidades nutricionais necessárias para o dia a dia.
Quando se fala em nutrição para pacientes paliativos, o cuidado alimentar passa a ser uma das estratégias terapêuticas que privilegie a melhor qualidade de vida. Esse cuidado perpassa pelo prazer, o conforto emocional e até mesmo uma integração com a família. “No Valencis Curitiba Hospice, espaço dedicado a cuidados paliativos, é possível, a depender do estado de saúde do paciente, solicitar pratos específicos, de acordo com desejos e vontades, através da avaliação do Serviço de Nutrição”, cita o médico Vinicius Basso Preti, especialista em Terapia Nutricional de Nutrição Clínica pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN/SBNPE) e chefe do Serviço.
Mas a terapia nutricional em cuidados paliativos envolve também outras questões inerentes à terminalidade, como um plano de cuidados adequados, o momento exato para se fazer o uso de um suplemento nutricional ou mesmo quando fazer a Terapia Nutricional Enteral (TNE), aquela administrada por sonda. Saiba mais sobre o assunto com as nutricionistas Karen Cardoso Inamassu e Vanessa Dreher, do Grupo IOP.
Como é feita a avaliação nutricional em pacientes com doenças crônicas e incuráveis?
A avaliação deverá ser realizada de acordo com a expectativa de vida, sendo: quando maior de 90 dias deverá ser realizada a Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Paciente (ASG-PPP), Anamnese nutricional, Sinais e sintomas e Parâmetros laboratoriais; Menor de 90 dias: ASG-PPP, Anamnese nutricional e sinais e sintomas; Cuidados ao fim da vida: Anamnese nutricional com foco nos sinais e sintomas. Uma avaliação precoce e adequada é indispensável para a elaboração de um plano integral de cuidados, individualizado e adaptado a cada momento da evolução da doença.
É possível determinar um plano de cuidados adequados?
Sim. Neste momento é importante que os profissionais levem em consideração as preferências e expectativas dos pacientes e familiares, além da avaliação do prognóstico e da sobrevida, a fim de minimizar os riscos de subtratamento ou de tratamentos fúteis. A indicação é que para pacientes internados o acompanhamento seja realizado semanalmente e a nível ambulatorial que sejam acompanhamentos quinzenais ou conforme demanda espontânea.
Quais critérios se deve levar em conta para a realização desse plano de cuidados?
Para planejar o cuidado nutricional deve-se levar em consideração o estágio tumoral, presença de metástases, capacidade funcional, predição clínica de sobrevida, história de perda de peso, caquexia, presença de sintomas, tais como: dispneia, delírio, anorexia e disfagia, e alterações laboratoriais (leucocitose, linfopenia, hipoalbuminemia e aumento da proteína C reativa).
Quais são os indicadores nutricionais e critérios para a intervenção nutricional de acordo com a situação clínica do paciente?
Neste caso, também estará relacionado com a expectativa de vida do paciente, mas, basicamente, leva-se em consideração uma ASG-PPP com resultado de desnutrição moderada, suspeita ou grave, porcentagem de perda de peso grave ou significativa, ingestão alimentar inferior à 60% por mais de 7 dias e a presença de sinais e sintomas persistentes.
A prescrição dietética perpassa pelo processo de avaliação do paciente e condição nutricional?
Sim. A prescrição dietética deve ser criteriosa e levar em consideração as expectativas dos pacientes e familiares e os aspectos clínicos e prognósticos. Além disso, deve-se ponderar os aspectos bioéticos envolvidos como, por exemplo, autonomia, beneficência, não maleficência e justiça.
Podemos dizer que uma prescrição dietética colabora com o bem-estar e auxilia ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida do paciente?
Sem dúvida! Dentre os objetivos da prescrição dietética (Terapia nutricional) estão: prevenir ou minimizar os déficits nutricionais; reduzir complicações da desnutrição; controlar sintomas e evitar desidratação; promover conforto emocional e melhora da autoestima; melhorar a capacidade funcional e melhorar a Qualidade de Vida.
Porém, para que sejam alcançados esses objetivos, é importante que sejam considerados todos os fatores citados anteriormente.
O suporte nutricional varia de acordo com a evolução da doença?
Sim. Porém, sempre levando em consideração o bem-estar e a qualidade de vida do paciente e respeitando a aceitação e tolerância do mesmo.
E quanto ao uso de suplementos nutricionais? Alguma estatística aponta o momento em que devem ser indicados?
Os suplementos nutricionais deverão ser indicados sempre que a ingestão alimentar do paciente for menor que 70% das necessidades nutricionais por sete dias consecutivos sem expectativa de melhora, ou para os pacientes em risco nutricional ou presença de desnutrição.
A terapia nutricional enteral (TNE) é indicada para pacientes paliativos? Sob quais critérios?
É indicada sim, principalmente quando houver a impossibilidade de utilização da via oral e quando a ingestão via oral for menor que 60% das necessidades nutricionais por sete dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão.
A tomada de decisão nutricional na fase de terminalidade do paciente envolve, além do profissional, a vontade do paciente e seus familiares?
Sim, respeitando os desejos, crenças e os valores dos pacientes e familiares, porém, deve-se considerar os aspectos bioéticos também envolvidos.